Humor: As Roupas do Falecido

Adivaldir era biscateiro diplomado, nunca tivera trabalho fixo, mas por um desses sentimentalismos da sorte, acabou por conseguir emprego como servente na mansão da família Cavelie.

Viúva recente do desembargador Alain Cavelier, Judith Marie achou que se desfazendo de tudo que recordasse o marido, a saudade iria diminuir e ofereceu justo ao Adivaldir, todas as roupas do falecido.

Pensando na grana que iria ganhar vendendo calças, camisas etc. o servente contratou os serviços de uma Kombi e na manhã seguinte, bem cedinho, foi enfiando tudo em sacos e colocando à beira da calçada para facilitar o embarque e pagar menos pelo frente.

Quando já estava tudo ensacado, só para fazer média com a viúva, o cara foi até ao jardim onde madame tomava banho de sol, para agradecer e esse foi o seu erro, pois o tempo que perdeu com conversa fiada, foi o suficiente para que ao retornar a calçada não encontrar nada do que deixara:

— Porra, cadê os sacos que deixei aqui? Qual foi o filho da Puta que me robô? Deus num pode ter feito uma sacanagi dessa comigo! Será, que nem o senhor Jesus gosta de mim? (perguntou o Adivaldir olhando em direção ao infinito)

—O que houve rapaz? (perguntou curioso, Josué Horácio, motorista da família)

— Algum viado me sacaneou e robô um montão de saco que eu tinha deixado aqui na calçada!

— Calma rapaz!

— Parece castigo seo Horaço, a vida toda eu só me fodi e, quando aparece uma parada pra me adiantar, sou robado! Deus num gosta de mim, mas por quê?

— Não duvide do amor de Deus e agradeça ao criador por sua sorte!

— Sorte?

— Sorte sim! Depois que você carregou todo aqueles saco e deixou ai na calçada, aproveitei que passou um caminhão Comlurb e pedi pra rapaziada levar a lixarada. E agora, ainda vai dizer que Deus num gosta de você?

Fernando Zappa