Humor: O Galo Dançarino

Um ano após ser demitido da fábrica de vassouras, Arimar estava literalmente em um miserê absoluto. Às vezes, nem um pedaço de pão tinha pra enganar a fome e era Turico quem ouvia seus lamentos:

— Turico mormão, que ia ser de mim sem você?… Acho que já tinha feito uma bobagi…

Tal Turico com quem Arimar choramingava inferno astral que vivia, era um galo velho que recolheu quase morto em uma lixeira próximo a uma rinha em Duque de Caxias.

Muitas foram às vezes que pensou em comê-lo, mas o amor à ave era maior e resistia.

Certa vez, acordou em meio à madrugada com uma ideia que julgou que resolveria seus problemas. No dia seguinte, bem cedinho, saiu pela vizinhança anunciando:

— Domingo cês vão lá em casa pra ver o show do meu galo Turico! O ingresso é qualquer alimento não aperecivo!

Como propaganda é a alma do negócio, o quintal de Arimar no dia do tal evento estava apinhado, todos curiosos em saber que show era aquele que o cara fizera tanta propaganda.

Quando julgou que chegara a hora,  Arimar puxou um velho lençol que cobria uma espécie de gaiola gigante circundado por uma tela  e jogou o galo dentro.

Por mais de meia hora a ave dançou frevo, xaxado, baião e outros ritmos sem parar.

A apresentação foi aplaudidíssima. Arimar arrecadou o suficiente, para ficar dois meses longe da fome.

A coisa deu tão certo, que nas semanas seguintes, agora cobrando ingresso, o quintal do ex-faminto Arimar virou point, mas tanta badalação despertou a atenção das zotoridade que resolveram saber que história era aquela de galo dançarino e foram conferir.

Arimar agora está preso na 56ªDP, acusado de maus-tratos de animal e estelionato, pois o local onde o galo Turico se apresentava e que Arimar chamava de palco, era uma chapa de aço aquecida a uma temperatura de 180º graus.

O galo foi levado para uma fundação de proteção a aves, onde está se restabelecendo das tantas queimaduras.

Quanto a Arimar, aguarda transferência para a penitenciária de Japeri. Dizem que o tempo todo reclama da ausência do galo Turico, que afinal, era o seu melhor amigo.  

Fernando Zappa