Humor: Preconceito é Coisa Complicada

Claudiomira não conseguia controlar a ansiedade diante da demora do ônibus. Todos os dias sair da faculdade e ir para casa era um calvário e, em um dia chuvoso como aquela quinta-feira era mil vezes mais.

Cansada e faminta, a estudante ficou tomada de pânico quando percebeu que pouco a pouco todos tomaram seus destinos e só ela e um negro alto e magro, que sem disfarçar a olhava insistentemente, restaram no ponto.

Teve vontade correr, mas correr pra onde? Quando achou que um assalto era inevitável, eis que surgiu uma salvadora Kombi.

Mais que depressa adentrou ao transporte, mas seu coração quase explodiu, quando o sujeito também embarcou.

Durante o trajeto rezava para que o homem não saltasse no mesmo local que ela, mas como castigo, o sujeito desembarcou na mesmo local.

Pensou em ligar para o pai ou o irmão, mas só aí lembrou que a bateria do celular descarregara e o único orelhão existente fora literalmente queimado.

À distância até sua casa era considerável, decidida respirou fundo e entregou tudo nas mãos de Deus, mas alguns metros a frente, não se sabe vindo de onde apareceu um garotão bem afeiçoado, musculatura definida, desses sarados de academia:

— Cara to morrendo de medo de um negão que ta me seguindo desde que sai da faculdade. Será que dava pra você ir comigo até o portão da minha casa?

“Pediu Claudiomira ao cara mas para a sua surpresa, o sujeito sacou uma faca e ordenou que a estudante entrasse e um terreno baldio e quando o marginal pôs as mãos em seus seios e ia concretizar o ato, surgiu como um raio o mesmo negro viajante da Kombi que tomou a faca do bundão e o pôs pra correr.

— Obrigada… Nem sei como te agradecer… (disse Claudiomira sem jeito)

— Num tem de quê! Você não está se lembrando de mim, mas moro no número 137 em frente da sua casa…

Fernando Zappa